Khanis - O reino da Guerra.

"Já faz muito tempo desde que houve paz nestas terras. Antes ocupávamos quase toda extensão dessas ilhas. Khorus e a região que a contém de fato nunca foi nossa, mas isso não foi o problema. Possuíamos laços comerciais com os anões que ali residiam e sempre houve paz entre nossos povos. Nossa região era rica, nas terras havia fartura de alimentos, minérios vinham de nossa montanha ao sul, e em Tulkas eram produzidas as melhores armas que já houveram. Os orcs nasciam e cresciam e jamais desejavam partir. Nossa terra natal era bela, próspera e tranquila. Então vieram os elfos.

A noite caia quando vários barcos atravessaram a pequena faixa de mar, todos vinham na direção da capital Arkash. a princípio não sabíamos do que se tratava, mas logo soubemos. Chegavam as centenas, orcs feridos, agonizantes, mulheres e crianças, todos manchados de sangue e uma expressão de terror no rosto. Latresh, uma de nossas mais importantes cidades fora atacada. 

Nosso senhor ordenou aos exércitos preparar uma ofensiva que deveria partir de Tulkas, tudo foi feito como ordenado, mas a batalha era dura, os elfos fortificaram Latresh e resistiam. Nossos orcs mantiveram um cerco, durou exatamente três semanas. Mais barcos chegaram, mas desta vez vinham do sul, eram poucos e traziam mães orcs com suas crianças. Os poucos orcs que vinham traziam a terrível notícia. Tulkas havia caído. As notícias do cerco dos orcs se espalharam pelo continente, os homens, a muito sedentos pela minério abundante e único de nossa montanha, vieram por mar na calada da noite e aportaram em locais escondidos, avançaram contra vilas deixando no caminho marcas de selvageria, chegaram até Tulkas e encontraram uma cidade guarnecida por orcs ou inexperientes demais para o combate ou velhos demais para isto. Foi nossa segunda derrota e agora as esperanças começavam a ruir. Nosso reino, nossa história, perdida pela ganância de outras raças. O senhor dos orcs mandou barcos que trouxeram de volta aqueles que faziam o cerco a Latresh. Também enviou cinco mensageiros até Khorus, solicitava a ajuda dos anões. Acreditava que a aliança entre os dois povos poderia ser sua salvação. Enganou-se.

Daqueles mensageiros somente um voltou. Estava fraco e abatido, suas roupas estavam rasgadas e trazia em sua mão um saco de couro ensanguentado. Entregou-o ao rei e então caiu. Dias depois morreu. Dentro do saco estavam as cabeças dos outros mensageiros. Só sobrara aos orcs sua ilha central, que consistia de pequenas vilas e a capital Arkash, do seu praticamente extinto reino. Muitos navios partiram levando vários orcs que haviam desistido da batalha. O destino daqueles que partiram foi sombrio, mas esta história não será narrada aqui. Aos que ficaram sobrou o desespero, eram poucos, estavam em grande maioria feridos e temiam por um ataque súbito dos três inimigos que os cercavam. Mas as notícias trouxeram uma brisa de esperança. Nenhum exército se movera.

Houve um breve período de paz e os orcs se curaram de suas feridas, estavam preparados novamente, mas não dariam o primeiro passo, esperavam os inimigos. Cada povo então enviou um mensageiro ao senhor dos orcs com ofertas de rendição. Os enviados elfos traziam consigo a arrogância. Alegavam superioridade racial e merecimento por todo o domínio, exigia que o senhor dos orcs se curvasse e que nada mais era de se esperar de uma raça tão medíocre. Os enviados dos homens ofertavam a chance de um trabalho honesto desde que aceitassem que eram eles os novos senhores das ilhas. Exigiam as espadas dos orcs ao seu lado na batalha contra os elfos e anões. Os anões enviaram uma pequena comitiva escoltada por uma centena de bem armados guerreiros. Estes últimos foram brutalmente assassinados assim que entraram em Arkash. Os enviados elfos e humanos foram presos, torturados e seus corpos quase sem vida foram amarrados na amurada da proa de dois navios, elfos em um, homens em outro. O mesmo foi feito com a comitiva dos anões, a diferença é que levavam o que sobrou dos mortos. Os três barcos então levaram aos povos as respostas dos orcs. Ali começou a primeira de intermináveis guerras.


Com o tempo passamos a chamar as ilhas de Khanis, o reino da guerra, e esquecemos o nome que um dia estas terras tiveram. Já não há beleza alguma, o nosso raro minério é toscamente utilizado para criar espadas para os homens, armas que ficam longe da magnificência que nossos antigos artificies eram capazes de produzir. As belas florestas que rodeavam Latresh tornaram-se campos de morte e destruição. Ao norte, os anões deixaram de lado a antiga amizade para aderir aos mesmos propósitos gananciosos dos invasores. Khorus se tornou uma cidade voltada somente para a guerra, os anões dali perderam toda sua nobreza com o passar dos tempos. Hoje não são mais do que bárbaros sanguinários, apesar de ainda haver aqueles que preferem fazer uso da diplomacia e mantém alguns traços dos antigos de sua raça que habitaram aquele lugar.

Os quatro povos se tornaram pobres e temerosos em relação ao amanhã, há muito elfos e homens do continente não enviam novos soldados para engrossar fileiras, mulheres e elfas foram enviadas de suas terras natais a Tulkas e Latresh, respectivamente, e assim, os exércitos são reforçados por aqueles que ali nascem em Khanis. Os que são do sexo masculino tem o destino traçado após o primeiro choro, a batalha. Já fazem séculos desde que essa guerra começou, salvo os breves períodos de trégua. não há paz. Nunca houve um povo vencedor e somente o povo orc sentiu o sabor amargo da derrota."

 Do livro "Crônicas de Sangue" - de Gudhak Jiks

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